Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha e último líder de centro-esquerda da União Europeia, enfrenta a mais grave crise da sua carreira política, com múltiplas investigações por corrupção a atingirem o seu círculo próximo, incluindo a esposa, o irmão e antigos ministros.
Pedro Sánchez, primeiro-ministro de Espanha e último líder de centro-esquerda da União Europeia, enfrenta a mais grave crise da sua carreira política, com múltiplas investigações por corrupção a atingirem o seu círculo próximo, incluindo a esposa, o irmão e antigos ministros.
Santos Cerdán, secretário de organização do (Partido Socialista Operário Espanhol) PSOE e braço-direito de Sánchez, demitiu-se na semana passada após um juiz do Supremo Tribunal ter considerado existirem indícios firmes da sua possível participação num esquema de comissões ilícitas em contratos públicos. A este caso estão associados os nomes do ex-ministro dos Transportes, José Luis Ábalos, e do seu ex-assessor Koldo García, ambos já visados por suspeitas semelhantes.
Conversas gravadas entregues à Guardia Civil indicam alegados contactos entre os três, incluindo orientações para manipular as eleições internas do PSOE em 2014. Áudios com conversas de teor sexual entre Ábalos e García também vieram a público, causando constrangimento adicional ao governo.
Sánchez admitiu, na quinta-feira, ter errado ao confiar em Cerdán, ainda que este mantenha a sua inocência. O primeiro-ministro reiterou que continua comprometido com uma política limpa e transparente. Porém, o desgaste é visível, sobretudo após o partido ter inicialmente negado qualquer envolvimento de Cerdán nas acusações.
A instabilidade agravou-se com o envolvimento de familiares diretos do primeiro-ministro. A sua esposa, Begoña Gómez, está a ser investigada por suspeitas de tráfico de influências, após uma queixa do grupo Manos Limpias, com ligações à extrema-direita. O grupo acusa-a de beneficiar da sua ligação a Sánchez para obter apoios para uma pós-graduação universitária que coordenava. O próprio primeiro-ministro acusou os queixosos de estarem a conduzir uma campanha de perseguição política.
Também o irmão de Sánchez, David Sánchez, enfrenta um processo por suspeitas de tráfico de influências e outros delitos, igualmente com origem em denúncias de Manos Limpias. Ambos os familiares rejeitam as acusações.
Segundo o The Guardian, a Guardia Civil visitou na sexta-feira a sede do PSOE em Madrid e o Ministério dos Transportes, clonando os emails de Cerdán e Ábalos. Há ainda suspeitas de que um ex-militante do PSOE tentou lançar uma campanha de desinformação contra a unidade anticorrupção da Guardia Civil.
Internamente, o Partido Popular (PP), liderado por Alberto Núñez Feijóo, ainda não reúne votos suficientes para avançar com uma moção de censura. No entanto, os aliados parlamentares do PSOE, entre os quais partidos nacionalistas catalães e bascos, poderão abandonar o apoio ao governo caso considerem insustentável a sua imagem pública.
Apesar do contexto adverso, Sánchez insiste na inocência do partido: “A esquerda não é corrupta”, afirmou recentemente no Congresso, numa sessão marcada pela tensão. “Não vou aceitar que se transforme um episódio numa categoria porque a esquerda não é corrupta, a esquerda não rouba e a minha organização é limpa”, afirmou.