A nossa comunidade, seja Portugal, ou Maia, ou Mundo, é definida por uma cultura, que se traduz numa estrutura partilhada de referências sobre comportamentos, atitudes, valores, saberes cognitivos, psicomotores, afetivos, atitudes, costumes locais, valores intelectuais, morais, espirituais, práticas culturais. A cultura não é igual ao “ensino da escola”, embora este tenha um contributo essencial para ela. As referências que se reportam à cultura são produzidas sobre experiências coletivas vividas, que se refletem em práticas que configuram a cultura. “Deste ponto de vista, a vivência de novos acontecimentos pode mudar o valor atribuído a determinadas práticas ou às suas referências e, por consequência, pode também constituir-se como um fator de reorganização dos significados socialmente partilhados, ou seja, da cultura. As mudanças ocorridas nas vivências partilhados pelos membros de uma comunidade ou de uma organização tendem assim a repercutir-se em alterações nos valores da cultura e, naturalmente, em alterações das referências assumidas pelas organizações e instituições.” As organizações, os países, o mundo, não possuem no “trabalho” só ele, uma base da superestrutura jurídico-política e ideológica, e em nenhum caso um aspeto secundário da sociedade. Uma relação social de produção é inconcebível sem regras de conduta, sem discursos de legitimação, sem práticas de poder, sem costumes e hábitos de comportamentais, sem objetos valorizados tanto pela classe dominante quanto pela classe dominada, por isso a cultura, a sua espiritualidade, constituem o fundamento real para o caminhar dum povo. De acordo com a UNESCO “a cultura deve ser considerada como o conjunto de características distintivas espirituais e materiais, intelectuais e afetivas que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que inclui, além das artes e das letras, os modos de vida, os modos de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças”.
É isto que não vejo na leitura de todos os partidos políticos concorrentes às presentes eleições legislativas terem em consideração nos seus programas, poucas linhas e parágrafos destinados a uma questão fundamental na construção de um país. Ao falarem em cultura desertificam os “valores, as tradições e as crenças”, do povo de que fazemos parte. Comparem as páginas dos programas destinadas à cultura com a economia, o social – este pouco -, e a questão ambiental e verifica-se uma retumbante vitória da “economia” – daquela que mata -, sobre o “social” ou mesmo sobre o “ambiente”. Parece que o motor de tudo é essa economia e não é!
O motor da sociedade que queremos construir é a cultura, como definido pela UNESCO, ela é a base de qualquer desenvolvimento – que não se define como crescimento -, para as pessoas e as comunidades. Não vislumbro nos programas dos partidos concorrentes uma efetiva compreensão da cultura, enquanto motor e assim não iremos lá! Uma última palavra para a cultura migrante que constitui uma garantia da interculturalidade de pessoas e regiões assinalável, que também é “esquecido” nos programas partidários. Será caso para perguntarmos: e a cultura senhores?
Joaquim Armindo – Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental