No passado sábado, dia 25 de julho, passou quase despercebida a manifestação antifascista e antiracista que teve lugar em Lisboa.
Ao contrário do que noticiou a RTP nos breves minutos que dedicou a esta iniciativa, a 2ª Mobilização Nacional Antifascista nada teve que ver com o episódio do assassinato de George Floyd, em Minneapolis.
Neste país tão orgulhoso do passado dos descobrimentos e da colonização é muito difícil refletir e conversar sobre coisas como o racismo estrutural, a xenofobia e a discriminação de pessoas racializadas. Tranquiliza-nos mais pensar que se tratou de um evento sem significado, mais uma marcha para protestar contra algo que aconteceu do outro lado do Atlântico.
Na realidade, a manifestação apartidária foi organizada pelo Núcelo Antifascista do Porto e pela Frente Unitária Antifascista, em colaboração com diversos outros coletivos de ativistas de Gimarães a Lisboa e com apoio de muitos grupos internacionais associados ao Movimento Antifascista, que agrega milhares de pessoas em todo o mundo na luta contra as ideias reacionárias e opressoras que estão, cada vez mais, a contaminar o mundo.
Mas então, o que terá levado mais de 100 pessoas a apanhar um autocarro para vir à capital afinar a cantoria e agitar faixas e bandeiras antiracistas?
Os e as ativistas antifascistas souberão de antemão que grupos criminosos nacionalistas e neonazis se iriam juntar nessa tarde junto ao Padrão dos Descobrimentos numa Conferência que visava aproximar politicamente esses grupos, num momento privilegiado em que há um deputado de extrema-direita no Parlamento que conta o apoio declarado de Mário Machado, neonazi condenado e preso pelo homicídio de Alcindo Monteiro há 25 anos.
Tanto quanto se sabe, não houve nenhuma tentativa das autoridades de impedir a realização dessa conferência neonazi. Alguns desses elementos já aderiram ao partido de Ventura e têm responsabilidades dentro do Chega. Não se trata de mudar a natureza de um partido em si já muito reacionário, mas de assegurarem o poder para puderem executar o seu plano de transformar o país numa sociedade onde o ódio racional, homofóbico e transfóbico impera nas instituições e controla as ruas com recurso à intimidação e à violência.
Todo o antifascista tem responsabilidades num momento em que a extrema-direita toma nas suas mãos os governos de algumas das nações mais ricas e poderosas do planeta.
No contexto da pandemia vimos aquilo que representa ter este tipo de delinquentes a chefiar governos. Quantos mais terão de morrer, quantas liberdades teremos de perder até o país acordar e perceber que o fascismo nos bate à porta?
Que esta mobilização seja lembrada, não como um episódio que tenta reavivar uma questão mas como uma iniciativa que era urgente e necessária e que se espera que seja uma ajuda no despertar das consciências de que tanto precisamos para preservar direitos e liberdades cada vez mais ameaçados.
Como dizia Einstein, “a liberdade, em qualquer caso, só é possível se constantemente lutarmos por ela”.
Se nada fizermos, será tarde demais.
Jorge Santos