Mais de uma centena de militantes do Bloco de Esquerda da concelhia de Santarém anunciaram esta quarta-feira, 5 de junho, a sua saída do partido em choque direto com direção de Mariana Mortágua.
Mais de uma centena de militantes do Bloco de Esquerda da concelhia de Santarém anunciaram esta quarta-feira, 5 de junho, a sua saída do partido, denunciando o afastamento de críticas internas, centralismo na tomada de decisões e práticas que dizem “envergonhariam muitos patrões”. A decisão, comunicada numa carta enviada à comunicação social, inclui a desvinculação do ex-deputado Carlos Matias e surge num contexto de forte contestação à atual liderança de Mariana Mortágua.
Os militantes afirmam que o partido “há muito se afastou da construção de um forte polo à esquerda” e que a experiência da geringonça “impregnou irremediavelmente a linha estratégica do BE”, com as propostas políticas a serem, segundo os signatários, frequentemente “metidas na gaveta” na expectativa de aceitação pelo Partido Socialista.
Na carta, os dissidentes acusam a direção do Bloco de ter substituído “a luta dos trabalhadores” por “agendas identitárias e parciais” e referem que, apesar de críticas regulares levadas aos órgãos internos, estas têm sido sistematicamente rejeitadas. “A diversidade do BE, outrora vista como uma riqueza, hoje é encarada como uma ameaça”, denunciam.
“Quadros com provas dadas são destratados pela intriga de corredor. Quando tal não basta, recorre-se a insinuação difamatória ou inventa-se um processo disciplinar interno”, afirmam.
Entre as acusações mais graves, os militantes afirmam que trabalhadores do partido são sujeitos a “práticas que envergonhariam muitos patrões”, recordando o caso de despedimentos de recém-mães em 2022 como exemplo de uma conduta que, garantem, “não é única”. Acusam ainda a direção de recorrer a “insinuações difamatórias” e a processos disciplinares internos como forma de silenciar opositores.
Criticam também a forma como são escolhidos os candidatos a deputados, alegando que as estruturas distritais são ignoradas quando não se alinham com “a linha oficial”, e que a distribuição de recursos depende da lealdade ao secretariado nacional. Denunciam ainda o esvaziamento de órgãos estatutários em favor de estruturas informais controladas pela direção.
“Infelizmente, chegámos a um ponto em que consideramos definitivamente bloqueado qualquer esforço regenerador. Por isso saímos”, afirmam, declarando encerrado o ciclo de participação no partido, mas reiterando a defesa da “unidade na diversidade” como princípio fundador do Bloco.
Em fevereiro deste ano, outro grupo de cerca de 70 militantes já havia anunciado a sua desvinculação do partido por razões semelhantes. Nas legislativas de maio, o Bloco de Esquerda elegeu apenas uma deputada — a líder, Mariana Mortágua — e perdeu mais de 150 mil votos em relação a 2024.